Quem se ater ao título pode achar que é um texto de julho de 2013. Mas viajando pelo nordeste nestas férias, mais precisamente em Natal, esta frase pichada em um muro me causou uma dor no estilo “dedo na ferida”: “Copa para quem?!”. Estamos no início de 2015 e a pergunta continua, sim, absolutamente relevante.
Ao transitar por Natal, constatei que as críticas negativas a respeito da escolha da cidade como sede da Copa se concretizaram. Como se esperava, a Arena das Dunas não vem sendo utilizada a ponto de justificar o tamanho da obra e investimento público. Só para ter uma ideia, foram realizados até o momento alguns eventos que se restringem à utilização do estacionamento da Arena. E sem nenhum representante na série A, os jogos de futebol reúnem, em média, um público que atinge no máximo 15% da capacidade da obra pública.
O detalhe é que o ralo de dinheiro público não se restringiu a construção de uma Arena totalmente desnecessária. Na própria cidade, turistas e moradores vivem o “drama do aeroporto”. Explico melhor: o antigo aeroporto da cidade funcionava em uma área militar central. “Dizem por aí” que os militares solicitaram de volta o uso da área e daí a necessidade da construção de um novo aeroporto (gostaria muito de ter acesso ao processo administrativo de desapropriação da área, só para saber se isso realmente foi usado como motivo).
Entretanto, independentemente da existência do motivo, de qualquer modo, a escolha da área para o novo aeroporto ofende de forma nevrálgica o Interesse Público: fica no meio do nada, ou melhor, em meio a florestas e dunas no município vizinho de Natal, chamado Santo Antônio do Amarante. Imaginaram o tamanho do impacto ambiental, além dos gastos absurdos com desapropriação para construção do aeroporto e das estradas de ligação?!
E o prejuízo não para por aí. A maioria dos trabalhadores perdeu os seus empregos, em razão da dificuldade de deslocamento para Amarante, já que não há transporte público para o meio do “nada”. Isso também gera uma enorme dificuldade para a iniciativa privada no tocante a contratação de mão de obra, que acaba se tornando mais cara. E sendo mais cara, quem é que vai pagar a conta mesmo? Aliás, quem está pagando por tudo isso Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas da União e Tribunal de Contas do Estado?!
Por fim, não poderia encerrar esta tentativa de responder o questionamento pichado no muro em Natal sem falar da minha cidade natal enquanto sede da Copa. Aliás, vou contar para vocês uma novidade sobre isso: pela primeira vez na história deste país, um político falou a verdade! Não, não é piada, tenho prova disso! Basta acessar o Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=sh4x4o7yJyE ) e vocês têm acesso ao áudio de uma reunião do Secretário para Assuntos da Copa do Estado do Paraná – Mario Celso Cunha – declarando que “se os clubes assumirem esses financiamentos, não vão pagar coisa nenhuma”.
Eis que na semana passada, a imprensa paranaense teve acesso a um documento encaminhado à Prefeitura de Curitiba, em que o Clube Atlético Paranaense se exime do pagamento do restante das dívidas relacionadas às desapropriações necessárias para o término da Arena da Baixada. Ademais, lembrem que o Estado do Paraná assumiu junto à União o financiamento para a construção do estádio propriamente dito, repassando estes valores para o Clube Atlético Paranaense.
Adianta erguer a plaquinha “Eu já sabia”, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual , Tribunal de Contas da União e Tribunal de Contas do Estado?! Aliás, nós coxas- brancas quando falamos no assunto imediatamente somos interrompidos com um “a inveja é verde”. De verde, por aqui, só as cores do meu time. Tenho para mim que o grande problema é o vermelho do meu “nariz de palhaço” de contribuinte, que aliás, em razão do aumentos dos impostos nesta semana, me fará trabalhar de cinco para seis meses, só para pagar tributos!
E a Copa foi para quem mesmo?!
